poeta
por um poema
que desconcerte
entorte
desconforte
arrombe a porta
dos céus
da tua boca
arranhe os dentes
da loba
arrebanhe os cordeiros
no pasto
e lhes ensine
a subverter
as ordens do pastor
assumo o risco
não sou o demo
nem corisco
eu sou cantor
no encalço
dos olhos de carolina
na fantasia
dos meus passos
tem confete/serpentina
poema concreto
para quem ainda pensa
minha poesia apenas
como coisa erótica
sensual jura secreta
minha metralhadora cospe bala
na cruel realidade
na miséria mais concreta
antes que se assuste
com o mínimo reajuste
nas contas do teu salário
te digo nobre operário
os 3 poderes prestam serviço
a banqueiros empresários salafrários
para escravizar o trabalhador
de forma vil cruel - injusta
defendem sempre a causa própria
para
Isadora Chiminazzo Predebon
O tempo é o senhor
dos meus ponteiros de músculos
relógio oculto no incons/ciente
o tempo
nos olhos daquela viagem
a paisagem
Caminho de Pedras
o cenário
Vale dos Vinhedos
o tempo
guardo em segredo
como uma Jura Secreta
na íris dos olhos dela
na face oculta da noite
na retidão clara do dia
como um concha na areia
o tempo mar de espumas
sargaço algas noturnas
a carne do corpo também
o vinho do tempo na boca
e a língua dizendo amém
Artur Gomes Gumes
todos os dias
acendo minhas lamparinas
e meus lampiões
o pavio aceso
afasta as aves de rapina
e o calor das chamas
aquece os corações
Teatro do Absurdo
O quarteto da hipotenusa
versus o quadrado do quarteto
da hipotenusa a musa do quadrado
fosse apenas o retrato na fotografia
mas não sendo hipotenusa
somente musa algaravia
uma palavra mais que estrada
sendo musa multi-via
me levou nessa jornada
para fora da Bahia
todos os santos mar aberto
no abismo a fantasia
de querer mus entretanto
muito mais que poesia
e ela vai pintando
o homem com a flor na boca
com seus pincéis de aquarela
poema que só é possível
pelas lentes dos olhos dela
na balada ou no bolero
nossas letras se entrelaçaram
pele corpo carne sangue pelos
poros entre tintas entre tantos
anos que foram pintados
sobre papéis de cartas em fogo
sob o sol chuva verão inverno
quando qualquer das estações
é primavera
e ela era uma estudante de arquitetura que pintou poemas no cachorro louco
e desenhou imagens em Brazilírica Pereira : A Traição das Metáforas
Artur Gomes
O Homem Com A Flor Na Boca
https://fulinaimatupiniquim.blogspot.com/
O Auto do Boi Macutraia
por onde andará
Macunaíma
tá no rabo da sereia
tá no rabo da arraia
já passou por Gargaú
tomou pinga em Bracutaia
?
não
Joilson Bessa já me disse
Kapi do céu já ensaia
Macunaíma vem dançando
na farra do boi Macutraia
levanta meu boi levanta
que é hora de viajar
acorda boi povo todo
povo e boi tem de lutar
olha o rabo do boi é boi
a barriga do boi é boi
olha o chifre do boi é boi
e o couro do boi é boi
o meu boi é valente é boi
já chifrou o tenente é boi
é um boi de mercado é boi
e também o delegado é boi
e lá vem Toninho Xita
todos vestido de rosário
vai cantar mais samba-enredo
pra enriquecer o relicário
ê meu boi brasileiro ê boi
pintadinho sem dinheiro ê boi
ê meu boi alazão ê boi
que chifrou o capetão ê boi
o meu boi é kabrunco é boi
o meu boi garrutio é boi
o meu boi lamparão ê boi
pra encantar a multidão é boi
o meu boi é jaguar é boi
mãe maria vem cantar vem boi
e meu boi sapatão ê boi
vem também pai joão vem boi
o meu boi julivete é boi
já comeu a micheque ê boi
e meu boi operário é boi
já chifrou salafrário ê boi
o meu boi é cigano é boi
o meu boi é baiano é boi
é também pernambucano é boi
tá no canto da sereia é boi
tá no rabo da arraia é boi
é um boi carnavalhado é boi
veste calça e veste saia é boi
eita boi da macutraia ê boi
o meu boi jaburu é boi
enfrentou o bangu ê boi
desfilou no ururau ê boi
e ganhou carnaval é boi
esse boi sem segredo ê boi
esse boi não tem medo ê boi
se um dia passa fome ê boi
noutro dia nós vira samba-enredo
Artur Gomes
www.arturkabrunco.blogspot.com
no coração dos boatos
agora que descobri ser o irmão mais novo de Biúte vou morar nos telhados do Palácio Jaburu. Assim posso ver todos os fantasmas que transitam nos corredores do Palácio depois da meia noite. E pelas minhas contas são muitos, pelo menos 583 já vi passeando por ali, numa orgia desenfreada de lavagem de roupa suja, apesar de todos estarem travestidos de terno e gravata, não escondiam o mal cheiro que exalava de suas caricaturas.
Clarice Cruz Terra
OS CAMINHOS QUE ME TROUXERAM ATÉ AQUI
Quando me vejo retornando à Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), onde cursei Licenciatura em Teatro entre os anos de 1997 e 2002, para falar sobre teatro e sobre o ensino profissionalizante, parece que alguns ciclos estão se completando, ou se conectando.
É curioso pensar que estudei na Escola Técnica Federal de Campos, que hoje é a sede do Instituto Federal Fluminense (IFF), escola que possui catorze campi no Estado do Rio e um deles é Macaé, onde eu hoje trabalho. Lá eu fiz o curso Técnico de Química (quem diria?).
Mas, na verdade, cursei apenas dois dos quatro anos. O que aconteceu nesta escola e que mudou a minha vida de forma decisiva - eu tinha planos de seguir estudando na área das ciências - foi o fato de ter feito a Oficina de Teatro na escola, com o professor Artur Gomes, um poeta campista que desenvolvia um trabalho essencialmente performático conosco.
Lembro-me, por exemplo, de uma intervenção que fizemos na cantina da escola, em que andávamos perguntando às pessoas na fila do caixa: “Quanto custa um sonho na cantina?”.
Andamos também pelos corredores da escola como em uma procissão cantando músicas de Milton Nascimento, entre outras propostas das quais ainda me recordo com certa clareza, apesar de mais de 20 anos já terem se passado. Como já disse, não concluí o curso técnico. Saí da escola e cursei um ensino médio propedêutico em uma escola estadual, mas continuei por mais alguns anos trabalhando com o Artur, ainda depois de sair de Campos para morar no Rio e cursar a faculdade de Teatro na UNIRIO. Sim, esta experiência foi decisiva para me levar a esta faculdade!
Obs.: introdução da Dissertação apresentada como pré-requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Ensino de Artes Cênicas pelo Programa de Pós-Graduação em Ensino de Artes Cênicas, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO)
Santíssima trindade
Quando fui ao Espírito Santo
vi três linda meninas
me sorrindo em aquarela
no entanto não sou santo
muito menos era de anjo
o sorriso em tua bocas
aquele olhar nos olhos delas
nas tuas íris/retinas
era ironia/sarcasmo
com a minha cara de fome
embaixo daquela janela
Federico Baudelaire
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