quarta-feira, 10 de novembro de 2021

Suor & Cio - Couro Cru & Carne Viva


outros leitores 

que já teceram alguma escrita

sobre a poética de Artur Gomes


Suor & Cio – Artur Gomes

 

A cor da pele, à flor da pele, tecido da pele, à flor da terra.

É o livro de Artur Gomes:

Suor & Cio, reconduz o homem a terra. Resgata o seu suor de homem e cio da terra. É tanto amor e o tanto amar homem terra homem.

Artur tem muito da característica de João Cabral, quando fala da terra, mundo: muito de Ledo Ivo na capacidade de reunir palavras e dizer algo, que as vezes, gostaríamos de gritar com todas as forças.

Poeta de fôlego de gato. Artur é uma das grandes expressões da atual poesia brasileira.

 

Hugo Pontes

Poços de Caldas-MG – 17 junho 1987

 

Poesia tropical, bagaço, engenherotrismo. É o novo livro de poemas de Artur Gomes, “Suor & Cio”, recém-lançado pela MVPB-Edições. O poeta funde um caldo de Brasil em versos densos e cabralinos. Tem gosto de melaço, textura de pele feminina roçando céus de bocas.

“Suor & Cio” condensa uma década de trabalho poético intenso e renovador de Artur Gomes. A eterna contradição entre o encurralado homem urbano e as delícias do pé no chão. O bom selvagem palpitando na jugular, forçando abertura da gravata do burocrata de Ipanema ou da corda no pescoço da malandro da Rocinha. É suor e cio mesmo. Mulheres e Mulheres passeiam pelo livro, figuras suaves como convém ao neolirismo, e o erotismo inevitável, neste tempos de tesão grandes e em série.

É uma boa ler a poesia de Artur Gomes numa tarde ensolarada de verão e depois guardá-la ao alcance da mão.

Sua poesia desperta toda a crocrodilice que a selva de pedra encerrou numa caixinha preta.

Pra conferir, o endereço para pedidos é: Rua Gomes Carneiro, 131801 – Ipanema – Rio de Janeiro – Cep 22071-800

Eloésio Paulo dos Reis

Alfenas – MG – outubro 1985

Obs.: este endereço acima foi meu lugar de repouso entre 1983 a 1987.

 

Under ground poemas mágicos Artur Grande sois Torquato Neto. Eu de Marte comemos o resto. Aplausos.

PS informo sua participação na caminhada poética Recife na minha voz.

 Ayrton Santha Agatha

Recife – Setembro – 1986

 

O CORPO DA POESIA

                        para Artur Gomes

 

I

Seu semântico

sêmen

quântico

seu semeio

sêmen

esteio.

nos aceiros

assim e

pinci

pau

mente

assados.

nas moendas

assim

e parti

cu

lar

mente

assadas.

 

II

seu pênis poético

(caneta tinteiro

lápis grafite)

é tênis

atlético

a cada passada

por toda calçada

por todos os Campos

&

campus.

seu gozo é pôr

prazer.

 

III

E se a terra é escrava

a mulher é companheira

e se todas duas suam,

gemem, sabem

da rija verga da cana,

só você pode fazer

com cada uma

uma mágica

e tê-las como fecundas,

frutas, fibras, forças, fadas

e não só vê-las (solvê-las) absurdas,

frias, frágeis, soturnas, apáticas.

 

IV

É que o corpo da poesia

tem em si suor & cio

tem assim toque macio

e braveza de enxurrada.

 

Marco Valença

Itapuã – Salvador – Bahia

05 setembro – 1985

 

COM OS PÉS NO CHÃO

 

Atenção, você está diante de um bom poeta. Aqui a poesia é marca da vida. Da minha, da tua e da nossa vida. Nada  de dar costas à realidade como fizeram os parnasianos de ontem e depois. Nada de escamoteá-la sob o delírio da transcendência, como fizeram os simbolistas. Nada subjugá-la a formalismos falsamente vanguardistas. Esta é, sim,  uma poesia de testemunho de indignação e de amor a arte e ao ser humano. Suas vertentes? Poderíamos situá-las mais distantes em Castro Alves com seu ímpeto participante. Mais perto, nas tendências duradouras do modernismo brasileiro: Oswald de Andrade, com a irreverência  e o humor; em Carlos Drummond de Andrade e especialmente em Manuel Bandeira, através do solidário envolvimento com o cotidiano.

 “veja bem na minha língua as labaredas do inferno e só use o meu poema com a força de quem xinga”.

 Adverte o poeta no conjunto intitulado “ O Dia em que o meu cavalo resolveu pintar as cores da bandeira”. A consciência de cidadão do terceiro mundo, da dependência econômica e do aviltamento cultural, impregna a palavra poética. O poema é dividido em vários segmentos, que podem também ser apreciados individualmente, em suas nuances formais e semânticas. No todo  se destacam a insubmissão à tirania, à múltipla ironia, e o apelo a autenticidade.

 Leia os poemas como quem ouve ou até mesmo em voz alta – você vai ter agradáveis surpresas. Há efeitos de ritmos e de sonoridade que assim se percebem melhor. Eles se associam a uma forte identidade do poeta com a cultura popular, presente também nos outros livros de sua autoria, sobre tudo O Boi-Pintadinho (1980) e Suor & Cio (1985). Sem esquecer de Jesus Cristo Cortador de Cana, todo escrito em linguagem de cordel (1979). Esta identidade com o popular se estende ao cotidiano. Em torno das palavras que o nomeiam ocorre uma certa ruptura da ordem, um certo embaralhar de sentidos que configuram bem a realidade urbana e a sua “desordem” reinante.

 Tem a ver também, obviamente, com o contra-senso das situações, a exemplo da paisagem do Rio., carregada simultaneamente de poesia e de dramática miséria humana.

Por isso diz o poeta pungente:

“não bastaria toda poesia”

E o que mais é preciso? Ora, é necessário por os pés no chão, ser solidário, acreditar na força d palavra, carregá-la de sentido humano e batalhar pela sua justa partilha. Isso vem fazendo Artur Gomes, numa trajetória consistente, marcada por um lúcido compromisso som a poesia e com a sua difusão.

 

Ilha de Santa Catarina, 03 de junho – 1987

Alcides Buss- poeta e professor da Universidade Federal de Santa Catarina-SC



Artur Gomes

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