sábado, 13 de novembro de 2021

relatório


                relatório

 

I

 

na sala ficaram cacos de pratos

espalhados pelo chão. pedaços do corpo retidos

entre o corredor, após o interrogatório.

um cheiro forte de pólvora e mijo

misturados a dois ou três dias sem banho

depois de feito sexo.

só o fogo da verdade exalando odor e raiva

quando em verde, conspiravam contra nós.

em são cristóvão o gasômetro vomitava

um gás venoso nos pulmões já cancerados

nos quartéis da cavalaria.

 

II

 

me lembro.

o sentimento era náuseas, nojo, asco,

quando as botas do carrasco

bateram nos meus ombros com os cascos.

jamais me esquecerei o nome do bandido

escondido atrás dos tanques

e

se chamavam:

Dragões da Independência

e a gente ali na inocência.

comendo estrumes. engolindo em seco

as feridas provocadas por esporas.

aguentando o coice, o cuspe,

e

a própria ira

dos animais de fardas

batendo patas sobre nós.

 

III

 

com a carne em postas sobre a mesa,

o couro cru, o coração em desespero,

o sangue fluindo pelos poros, pelos pelos.

eu faço aqui

meditações sobre o presente

re cri ando

meu futuro.

tendo o corpo em cada porta

e a cara em cada furo.

tentando só/erguer

as condições pra ser humano

visto que tornou-se urbano

e re-par-tiu

se

em mil pedaços

visto que do sobre-humano

restou cabeça, pés, e braços.




                                                                    Artur Gomes

Couro Cru & Carne Viva – 1987

www.arturfulinaima.blogspot.com

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