Filipe
filho de poeta
faz da terra
água e pão
dilata músculos
do pai
clarei ventre
da mãe
retesa nervos
das mãos
encharca vazos
do corpo
transborda veias
do chão
terra
antes que alguém morra
escrevo prevendo a more
arriscando a vida
antes que seja tarde
e que a língua da minha boca
não cubra mais tua ferida
II
entre/aberto
em teus ofícios
é que meu peito de poeta
sangra ao corte das navalhas
e minha veia mais aberta
é mais um rio de que espalha
III
terra, o que me dói
é ter-te devorada
por tantos olhos
e deter impulsos
por fidelidade
urbanus
debruçam no meu peito
sinais de sinhôs, marcas
de fracasso
trafega entre meus dentes
vinhoto nas gengivas
salivas no bagaço
entre os bueiros
do meu ventre
coração em carne viva
sangra do homem
seus pedaços
utopia
ó terra incestuosa
de prazer e gestos
não me prendo ao laço
dos seus comandantes
só me enterro à fundo
nos teus vagabundos
com um prazer de fera
e um punhal de amante
campos
levo-te nas entranhas
fuligem ferro pó
e o ódio declarado da usinas
injetado nas veias
até os ovos
nos olhos:
a visão encarnecida
do rufo dos chicotes
na cara e no suor
levo-te escrava
na certeza de não mais
sangrar em teus aceiros
ou enterrar-me até os ossos
em teus canaviais
moagem
na orgia verde
de uma nova safra
o homem lavra
:
a esperança atenta
nos lençóis de palha
engenho
minha terra
é de senzalas tantas
enterra em ti
milhões de outras esperanças
soterra em teus grilhões
a voz que tenta – avança
plantada em ti
como canavial
que a foice corta
mas cravado em ti
me ponho à luta
mesmo sabendo – o vão
- estreito em cada porta
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