segunda-feira, 13 de março de 2023

Suor & Cio

 

Filipe

 

filho de poeta

faz da terra

água e pão

 

dilata músculos

do pai

clarei ventre

da mãe

retesa nervos

das mãos

 

encharca vazos

do corpo

transborda veias

do chão


tecidos sobre a terra 


terra

 

antes que alguém morra

escrevo prevendo a more

arriscando a vida

antes que seja tarde

e que a língua da minha boca

não cubra mais tua ferida


II

 

entre/aberto

em teus ofícios

é que meu peito de poeta

sangra ao corte das navalhas

e minha veia mais aberta

é mais um rio de que espalha


III

 

terra, o que me dói

é ter-te devorada

por tantos olhos

   e deter impulsos

por fidelidade


urbanus

 

debruçam no meu peito

sinais de sinhôs, marcas

de fracasso

 

trafega entre meus dentes

vinhoto nas gengivas

salivas no bagaço

 

entre os bueiros

do meu ventre

coração em carne viva

sangra do homem

seus pedaços


utopia

 

ó terra incestuosa

de prazer e gestos

não me prendo ao laço

dos seus comandantes

 

só me enterro à fundo

nos teus vagabundos

com um prazer de fera

e um punhal de amante


campos

 

levo-te nas entranhas

fuligem ferro pó

e o ódio declarado da usinas

injetado nas veias

até os ovos

 

nos olhos:

a visão encarnecida

do rufo dos chicotes

na cara e no suor

 

levo-te escrava

na certeza de não mais

sangrar em teus aceiros

ou enterrar-me até os ossos

em teus canaviais


moagem

 

na orgia verde

de uma nova safra

o homem lavra

:

a esperança atenta

nos lençóis de palha


engenho

 

minha terra

é de senzalas tantas

enterra em ti

milhões de outras esperanças

 

soterra em teus grilhões

a voz que tenta – avança

plantada em ti

como canavial

que a foice corta

 

mas cravado em ti

me ponho à luta

mesmo sabendo – o vão

 - estreito em cada porta 

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