sábado, 20 de setembro de 2025

Artur Gomes - Suor & Cio

 

                PASSANDO A LIMPO

 

I

 

loucura é não entender

a razão da poesia

em universo cosmo plástico

língua transcendental

em céus de boca

onde palavras tomam formas

e flutuam dimensões

 

II

 

loucura é não perceber

a santidade dos ladrões

a fome a sede o vício

coisas da social e da favela

“a carne seca na janela”

o desfile da portela

a mangueira verde e rosa

e os ratos passeando nos porões

 

III

 

loucura é ouvir

o rugido dos leões

na arquibancada

do pão que o diabo amassou

e não cumer a outra banda

que o brazil deu pra hollanda

não sacar Paulo Ciranda

essa finíssima presença

nem conhecer Marco Valença

:

ó baby

loucura ainda nem começou

 

 

GESTA

 

feroz

o índio

ainda via

o sol

a festa

fazia

 

o parto da raça humana

que hoje se desengana

e gente não pari mais

 

INDIGESTA

 

ê fome negra incessante

febre voraz gigante

ê terra de santa cruz!

 

onde se deu 1ª missa

índio rima com carniça

no pasto pros urubus

 

INDÍGENA

 

coração tombado

no tacape branco

fogo e fúria

        de fuzil

 

onde o planalto mata

veia agonizando

na ferozcidade:

BANCO DO BRASIL

 

 HERÓI NACIONAL

 

meu coração marçal tupã

sangra tupi e rock and roll

 

meu sangue tupiniquim

em corpo tupinambá

 

samba jongo maculelê

maracatu boi-bumbá

 

a veia de curumim

é coca cola & guaraná

 

TIRANA

 

ó baby

o meu sangue não é blue

nem tampouco jazz

em tua carne azul

 

estou de pé

olhando o front

e não aceito o horizonte

com a tirania do norte

ditando regras no sul

 

SONHANDO ESTAR EM CUBA

 

meu coração

não é de osso, não é de vidro

não é de aço, nem é de pedra

impunemente é só: coração

 

meu coração não é de hoje

conta por conta guarda em segredo

ama de longe ativamente

é só coração

 

meu coração não é verde amarelo

mas vive num país independente

só faz revolução não se arrepende

tramando a nova forma

do que sente

 

quando rumba brasileiramente

quando dança

algum bolero ardente

sonhando estar em cuba

macumba libremente

 

 BRAZILIANA

 

coração amordaçado

é simplesmente

nervo retorcido

 

coração apunhalado

é plenamente

nervo meu, ferido

 

sangra coração

em pele e osso

couro envelhecido

 

salta numa praça

brinca de pirraça

mesmo assim

:

fudido

 

 

TRO/PICALIZANDO

 

I

 

o poeta esfrangalha a bandeira

rasga o sol

tropical bananeira

na geléia geral brasileira

o céu de anil não é de abril

nem general é my brazil

 

II

 

minha verde amarela

esperança

portugal já vendeu

para a frança

e o coração latino

balança

:

entre o mar

de dólar do norte

e o chão

do cruzeiro  do sul

 

III

 

o poeta estraçalha

a bandeira

raia o sol marginal

quarta-feira

nessa porra estrangeira

e azul

que há muito índio dizia:

- “foi gringo

que trouxe no cu”

 

RE/VERSO

 

oswaldianamente

ainda não sei bandeira

nem levo o barco

ao Rei da Vela

 

: minha paixão

ainda é mangueira

desfilando na portela


 SEIO DA TERRA

 

bem no centro do universo

te mando um beijo ó amada

enquanto arranco uma espada

do meu peito varonil

 

e espanto todas estrelas

dos berços do eternamente

pra que acorde toda essa gente

desse vasto céu de anil

 

pois enquanto dorme  gigante

esplêndido sono profundo

não vê que do outro undo

robôs te enrabam ó mãe gentil !

 

 PARA TOTQUATO NETO

 

aqui estou na brasiléia tropicalha

em populácea militância

pornofágica

desbundando a marginalha

 em poesia su-real

 

para esquecer que a circunstância

é um pouco trágica

e não dizer

que o meu brasil dançou geral

 

 TRINCHEIRA

 

há uma gota de sangue

entre meus olhos

e os teus

 

e muitas velas acesas

pra salvar a nossa carne

e bocas cheias de dentes

   mastigando a nossa morte

 

mas eles é que morrerão

meu amor

num grande susto

         quando nus virem

amando nessa cama

de ferro e de pau duro

 

 1º DE ABRIL

 

telefonaram-me

      avisando-me

     que vinhas

 

na noite

uma estrela

ainda brigava

contra a escuridão

 

             na rua

             sob patas

             tombavam homens

             indefesos

 

esperei-te

20 anos

e até hoje

não vieste

à minha porta

 

 BRASIL

 

        este país

nunca existiu  

aqui

nunca tivemos

1º de abril

 

é brincadeira

da minha poesia

putaria do meu coração

 

tudo não passou de fantasia

                    ou obra de ficção

 

Artur Gomes

Suor & Cio

MVPB Edições – 1985

www.suorecio.blogspot.com



NAÇÃO GOITACÁ

www.fulinaimargem.blogspot.com

sexta-feira, 19 de setembro de 2025

Por onde andará Macunaíma?

 

Por Onde Andará Macunaíma?


Macunaíma: o herói sem nenhum caráter, de Mário de Andrade, é uma das obras mais emblemáticas do Modernismo brasileiro. Publicado em 1928, o romance rompe com os modelos literários tradicionais ao construir uma narrativa que mistura mito, folclore, crítica social e experimentação linguística. O protagonista, Macunaíma, nasce na floresta amazônica como um índio preguiçoso e astuto, e sua trajetória é marcada por transformações, contradições e episódios fantásticos que revelam a complexidade da identidade nacional.

A estrutura do livro é rapsódica: capítulos que funcionam como episódios independentes, mas que juntos compõem uma jornada épica e caótica. Após perder a muiraquitã — amuleto dado por sua companheira Ci, a Mãe do Mato — Macunaíma parte com os irmãos para São Paulo, onde enfrenta o gigante Piaimã (Venceslau Pietro Pietra) em busca do objeto perdido. A viagem simboliza o encontro entre o Brasil rural e o urbano, entre o arcaico e o moderno, revelando um país multifacetado e em constante tensão.

Mário de Andrade emprega uma linguagem inventiva, que incorpora regionalismos, africanismos, expressões indígenas e elementos da oralidade popular. Essa fusão linguística não apenas dá autenticidade à narrativa, como também reforça o projeto modernista de valorização da cultura brasileira em sua diversidade. Macunaíma, como personagem, é um anti-herói: ambíguo, irreverente, contraditório — um espelho das contradições do Brasil.

Ao final, o protagonista retorna à floresta e transforma-se em estrela, encerrando sua jornada com um gesto mítico. Macunaíma não é apenas uma sátira social, mas também uma tentativa de condensar o espírito brasileiro em uma figura que desafia classificações. A obra permanece atual e provocadora, sendo leitura essencial para compreender os dilemas culturais e identitários do país no século XX.

 

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Drummmundana Itabirina

https://uilconpereira.blogspot.com/

 *

Por Onde Andará Macunaíma?

Esse Macunaíma que vai surgir no vídeo foi pintado por Genilson Paes Soares no coreto de Manguinhos, em 2017, na edição de junho de maio de 2017. Infelizmente a ignorância com reação a Arte e Cultura em São Francisco do Itabapoana é tanta que mandaram apagar. Com certeza o autor ou a autora da façanha não tem a mínima ideia de quem foi Macunaíma, e o que ele representa para a forma étnica do povo brasileiro.

 

clique no link para ver o vídeo

https://www.facebook.com/studiofulinaima/videos/1395472030547713/?hc_ref=PAGES_TIMELINE

tenho prestado atenção em algumas coisas além da fumaça e do cinza espalhado por sob esse céu de estanho para não dizer de zinco entre um incêndio e outro o pantanal a Amazônia vão se esvaindo em chamas e a vida cada vez mais precária entre os animais humanos onde a ignorância a violência é o saber de muitos e a consciência crítica é o saber de poucos

 

Artur Gomes

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Artur Gomes – FULINAIMAGENS


ainda não disse que te amo mas não se assuste o beijo está guardado debaixo dos tecidos que cobrem o esqueleto à flor da pele na carne onde a palavra mora e a lavra aplaca qualquer ferida deixada por alguém que já foi embora

muitas coisas muitas vezes tão distantes me parecem tão presentes que o ausente evapora como éter eternamente simplesmente o rio escorrega por entre pedras e seixos e a vida segue o curso da corrente numa boa a pedra que rola sob o leito d´água muitas vezes voa

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O Homem Com A Flor Na Boca

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remix fulinaímico

                       suor & cio revisitado


a quem interessa o poema

na sala escura do cinema

o verso atravessado na garganta

nesse país que não levanta?

 

entre/aberto

em teus ofícios

é que meu peito de poeta

sangra ao corte das navalhas

minha veia mais aberta

é mais um rio que se espalha

 

na noite uma estrela

ainda brigava contra a escuridão

na rua sob patas

tombavam homens indefesos

e meus versos descarados

em teus lábios – presos

 

gigi em ouro preto

me deu um beijo na boca

quando ouviu

alguém cantando milton

ali em frente no porão

um país incendiado

e o poeta segue sempre

o seu destino em marginalha

o seu caminho em contra-mão

 

Artur Gomes

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Itabapoana Pedra Pássaro Poema

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mitologia itabapoânica

 

itabapoana a pedra submersa nas águas de são francisco hoje  voa sobrevoa a lama da planície goytacá se desviando os fungos criados por fezes e urina de ratos e morcegos  que habitaram  páginas de livros antigos fora e dentro dos arquivos federika bezerra me conta que no período em que se hospedou no hotel amazonas recebeu informações de fontes misteriosas sobre o paradeiro dos tais ratos, morcegos e outros roedores  que surgira  dos esgotos da velha aldeia tupinambara quando seus integrantes passaram pela intrépida cidade

 

Gigi Mocidade

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Itabapoana Pedra Pássaro Poema

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tudo aquilo que não digo

 

eu diria

tudo aquilo que não digo

não foi ainda pensado

triturado mastigado consumido

digo

:

preste mais atenção

em tudo aquilo que não digo

me dizia paulo leminski

olhando poema de kandinski

tatuado em meu umbigo

 

EuGênio Mallarmè

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Itabapoana Pedra Pássaro Poema

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tratado primeiro 

das letras quero tudo da palavra arranco gesto jiddu não me ensinou a mímica das metáforas ficou tudo suspenso cavalo solto no espaço pra quem quiser galopar

* 

laranja cósmica

em são francisco de itabapoana não tem laranja cravo poukan ou mexerica como meus intestinos não vivem  mais sem bagaço de laranja estou importando laranja do cosmo com minha astronômica luneta descobri fartura de laranjas em marte vênus plutão e o irônico é que em são francisco do itabapoana só tem laranjas nos telhados não tem laranjas no chão

 

Federico Baudelaire

Itabapoana Pedra Pássaro Poema

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*

couro cru & carne viva

adriano moura no prefácio de o homem com a flor na boca foca na obra do  “bardo da cacomanga”  sua poética política e memória. volto um pouco lá atrás ao ano de 1987, para dizer que na obra desse “trovador contemporâneo” sua liberdade criativa provoca, afronta regras, desconstrói linguagens. bota a carnavalha na cara da “louca  das minas”, que em seu surto delirante invade o palco da teatro francisco nunes em belo horizonte e grita que: “liberdade não é libertinagem”. sereno e imperativo o serAfim com a “flor na boca” contua a desfolhar sua bandeira no outro lado do palco na tela:

“no centro do universo te mando um beijo ó amada enquanto arranco uma espada  do meu peito varonil espanto todas estrelas dos beijos  do eternamente pra que acorde toda esta gente deste vasto céu de anil pois enquanto dorme o gigante esplêndido sono profundo não vê que do outro mundo robôs que enrabam ó mãe gentil!

 

Engels  La Puente – do black ryver jardiNÓpolis Batatais

8 setembro – 2024

* 

 

geleia geral

poema para ser cantado/falado nos saraus dos bares por esse brazyl que a tantas eras explode pelos ares

 

“é preciso estar atento e forte

não temos tempo de temer a morte”

                          Caetano Veloso

 

Gilberto Gil cantou

:

começou a circular

o expresso 2 2 2

que parte direto de bonsucesso

pra depois

 

o tempo rei

aponta a flecha

estica a lança

o velho deus mu dança

 

subo nesse palco

minha alma cheira talco

como bumbum de bebê

 

o deus justiça

rola o lance

nos dados sempre seis

 

poesia não cai do céu

é blues rasgado da carne

para o branco do papel

 

com um grito de alerta

:

sou o punk da periferia

sou da freguesia do ó

       ó aqui pra vocês!

 

Artur Gomes

Itabapoana Pedra Pássaro Poema
 

Itabapoana Pedra Pássaro Poema

    Mar de Letras Rio De Palavras 

                   quando tiro os panos

fico nu

o poema muda de cor

      tem outros planos

muda a flor

dos meus enganos

pássaro no ar

               feito  urubu 



mitologia fulinaimânica

 

explicitamente picasso nunca nos disse guernica o que signi-fica o  corpo do fonema aliterações alisam a orelha de van gog fartura farta fogo farra festa federico baudelaire tocando fado pras fadinhas de vênus falarem com a  fênix do farol de alexandria enquanto freud nem fode nem explica o que aconteceu na sexta feira no luau das laranjeiras depois que federika furtou a farinha do desejo de toda família do império das bananas no largo do machado infeliz  das oliveiras

 

Irina Serafina

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mitologia fulinaimânica 2

 

cubismo é um objeto estranho

encontrado por uma sereia

nos lençóis do maranhão

em noite d e lua cheia

teria vindo do mar

ou foi criado ali mesmo

naquele chão de areia

 

onde nenhum rabo de arraia

resistiu a ventania

não pense filme de terror

porque já tem gente por aí

dizendo que este samba é pra você

ó meu amor!

e que eu só escrevo putaria

 

Pastor de Andrade

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mitologia sagarânica

 

salvador alisa os bigodes de dali macabea ensandecida morre ali mesmo em sucupira no presídio federal de brazilírica porcina mete a língua na faca de lorca as unhas sujas de irina corta morangos mofados na fruteira  odorico ordena zeca diabo a organizar o enterro das camélias diadorim sopra o cano da garrucha  pendurada em seu olho esquerdo sagarânica em polvorosa comemora mais uma noite de são joão

 

EuGênio Mallarmè

In Itabapoana Pedra Pássaro Poema

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mitologia sagarínica

 

macabea a rainha das artes cínicas insatisfeita  com o rumo dos canaviais  aliciara  presidiários a saltarem os muros do presídio federal de brazilírica  federico o carcereiro desconfiou da facada que levaria pelas costas mas o matuto astuto como era invocou nossa senhora das cabeças tortas e rezou uma ladainha com os caramurus dos serAfins convocando eros e vênus para o banquete pornolírico com as descendentes de olivácio e gigi remexendo seus colírios que trouxera atrás dos braços  deposita sua iansã  por sobre a mesa e despacha  macabea pro espaço

 

Federika Bezerra 


mitologia brazilianas

breton mastigava poemas de baudelaire no jantar da quinta da boa vista dois anos depois da independência d pedro não conseguiu engolir abapuru no quartel da realeza  leopoldina perambulava distraída e  preocupada com as cartas de bonifácio recebeu notícias que em pernambuco havia chegado um ser estranho pintado em cores assombrosas perturbava a calmaria daquele estado de incertezas para os caminhos da imperatriz uma sombra pairava sobre as  chaves do seu guarda-roupa sem saber ao menos com que roupa iria desfilar no dia de são cristóvão na confeitaria colombo a sua afrodite de vênus 

 

Federika Lispector 


mitologia serafínica

 

irina estava vestida de beatriz primeira posava para mais um clássico do surrealismo de magrite no quarto preparava a cama para a chegada de wermer a alta temperatura do verão de sorocaba alterou a  visão pictórica do pintor da menina dos brincos de pérola que no jardim enfiava o pincel por entre a espessa barba esperando a primavera lady gumes apressada como sempre se aproveitou da cama e vive uma calorosa noite de amor sem mesmo querer saber quem era a serafina debaixo dos lençóis maranhenses

 

Pastor de Andrade

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Artur Gomes - Suor & Cio

                  PASSANDO A LIMPO   I   loucura é não entender a razão da poesia em universo cosmo plástico língua transcendental em céus d...