fosse essa jura sagrada
como uma boda de sangue
às 5 horas da tarde
a cara triste da morte
faca de dois gumes
naquela nova granada
e Federico Garcia Lorca
naquela noite de Espanha
não escrevesse mais nada
Artur Gomes
Poema do livro Juras Secretas
Editora Penalux - 2018
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não sou eu mas parecia e ser bem que poderia soube que um poeta em sampa está a me olhando com olhos de desejos que me arrepiam atiçando as tentações faço de tudo para que Baudelaire não saiba pois do jeito que o Federico anda ultimamente é capaz de me esganar se desconfiar desses olhares de fogo
Rúbia Querubim
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a cidade dos sonhos
sonhei que estava descendo em uma cidade desconhecida que nunca tinha ido e tinha uma menina me esperando - mas não consegui identificar que cidade era e nem a menina consegui reconhecer procurei na fotografia não encontrei aviste um oceano Atlântico fui à beira mar e acordei
Artur Fulinaíma
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não fosse esse punhal de prata
mesmo se fosse e eu não quisesse
o sangue sob o teu vestido
o sal no fluxo sagrado
sem qualquer segredo
esse rio das ostras
entre tuas pernas
o beijo no instante trágico
a língua sem que ninguém soubesse
no silêncio como susto mágico
e esse relógio sádico
como um Marquês de Sade
quando é primavera
Artur Gomes
Poema do livro Juras Secretas
Editora Penalux - 2018
tem pessoas que ainda gostam de fantasias ilusões ideias que não cultivo mais a pedra pólen inda me guia quando admiro céus sóis estrelas luas cheias vez em quando pedalo até a praia a procura de ouvir o canto da seria à beira mar yemanjá e continuo caminhando nesse chão que nos espera poesia além da morte bem pra lá dos girassóis para encontrar nas pradarias a orelha de van gog e seu instante em desespero não espero muito como alguém que do outro lado do oceano me espera
Artur Gomes
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Vampiro Goytacá Canibal Tupiniquim
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O Homem Com A Flor Na Boca
O ator, produtor, videomaker e agitador cultural Artur Gomes acumula uma bagagem de 50 anos de carreira com prêmios nacionais e internacionais em teatro, música, literatura e artes gráficas. Gomes poderia se filiar na tradição literária dos chamados poetas malditos, como comumente e simplistamente nos referimos àqueles autores que constroem uma obra “rebelde” em face do que é aceito pela sociedade, vista como meio alienante que aprisiona os indivíduos em normas e regras. Tais autores rejeitam explicitamente regras e cânones. Rejeição que manifesta-se também, com a recusa em pertencer a qualquer ideologia instituída. A desobediência, enquanto conceito moral exemplificado no mito de Antígona é uma das características de tais sensibilidades poéticas, que no Brasil já vem de longe com um Gregório de Mattos e ganhou impulso e seguidores com o famoso trio da “parafernália” rebelde: Verlaine, Baudelaire e Rimbaud.
Já tivemos oportunidade de observar em outras obras do autor, que suas construções poéticas seguem sempre renovadas para cima em matéria de criatividade, elencando uma variada diversidade temática que aborda, sempre em perspectiva ousada e radical, desde o doce e suave sentido do amor, ao cruel da relação amorosa, flertando com o libidinoso, e questões existenciais que expressam indignação, desobediência e transgressão.
É que, explica ele: “arde em mim / um rio / de palavras / corpo lavas erupção / mar de fogo / vulcão”. Outra faceta do autor, digna de nota, é a criação de vários heterônimos como sejam Federico Baudelaire, EuGênio Mallarmè ou Gigi Mocidade, talvez a mais irreverente de todos, porque fala a bandeiras despregadas, sem papas na língua. “Muitas vezes a língua pulsa pula para o outro lado do muro outras vezes a língua pira punk nesses tempos obscuros às vezes a língua Dada vai rolando dados nesse jogo duro muitas vezes a língua dark jorra luz nas trevas desse templo escuro”.
E aqui temos afinal, mais uma obra desse múltiplo e incansável poeta que caminha com uma flor na boca, símbolo universal de amor, de paz e beleza. A ele não importa verdadeiramente por quais meios: “se sou torto não importa / em cada porta risco um ponto / pra revelar os meus destroços / no alfabeto do desterro / a carnadura dos meus ossos”.
É poética que, para além de perquirir as dores e delícias da condição humana em si, envereda pelo viés de nossa condição social sempre ultrajada. Encontramos um poema que nos pergunta: “quem se alimenta / dessa dor / desse horror / desse holocausto // desse país em ruínas / da exploração dessas minas / defloração desse cabaço // quem avaliza o des(governo / simboliza esse fracasso?”
Artur Gomes segue sua árdua caminhada, agora com o poderoso concurso da maturidade que lhe chega. Segue emprestando sua voz aos deserdados, aos desnutridos, aos que têm sede, aos que têm fome, ou aos que morrem assassinados nos guetos, nos campos, nas cidades por balas de fuzil, desse país que tarda em referendar a cidadania.
Krishnamurti Góes dos Anjos - Escritor e crítico literário
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BraziLírica Pereira :
A Traição das Metáforas
*
A Traição do Lirismo
Dalila Teles Veras
Artur Gomes, feito gume, é máquina devoradora do mundo. Mastiga coisas, afetos, pessoas, rumina e afia os elementos em sua navalha verbal e os transforma na mais pura poesia.
Dono de uma criatividade em permanente ebulição, hábil no verbo e na disposição visual do mesmo no espaço do suporte - papel ou pano -
bandeira a gotejar palavra que, não raro, é também palco e gesto,
(in)cenação a complementar e enriquecer o que a palavra muda já disse, a dizer outra coisa que é também a mesma coisa: poesia.
Poeta em tempo integral, como poucos ousaram ser, Artur Gomes constrói,
sem pressa (os anos não parecem pesar - na carne nem no espírito)
a sua delirante e criativa poesia, colagem da colagem da colagem,
(re)encarnação mais do que perfeita da antropofagia como nem mesmo o velho Serafim sonhou. Nada, absolutamente nada escapa à sua devastadora e permanente passagem, andarilho de poderosa voz a evangelizar para a poesia.
Este Brazilírica Pereira: A Traição das Metáforas é a continuação
de um enredo de há muito ensaiado. Seus atrevidos personagens já apareciam em Vinte Poemas com Gosto de JardiNÓpolis & Uma Canção Com Sabor de Campos.
Legítimas apropriações retiradas de
suas viagens brazílicas, figuras que a sua generosidade literária
faz questão de homenagear. Na passarela poética de Artur,
tanto podem desfilar Mallarmé, Faustino, Dalí, Oswald,
Baudelaire, Drummond, Pound, Ana Cristina César e o sempre lembrado mestre Uilcon Pereira, a quem o novo livro é dedicado, como personagens anônimos encontrados nas quebradas do mundaréu, além dos amigos,
objeto constante de sua poesia.
Neste caldeirão, “olho gótico TVendo”, entra até um despudorado acróstico, rimas milionárias em permanente celebração. O poeta Artur, disfarçado de concreto,
celebra descaradamente a amizade e o lirismo e ri-se de quem tenta classificá-lo. Evoé, Artur!
A
uilcon pereira
por seu eterno
coração de boatos
a carlos lima
que por seu poema 1968
me permitiu o sub-título
a todos os cúmplices
que por falta de munição & Money
não citados
na batalha
desta fake inquisição de um pós-real
tropicanalha
às musas metafóricas
Analice e Ednalda
para Alice Flora e Filipe
axioma para final de século
p/Carlos Careqa & Hélio Letes
a diferença
entre o legume
e o vegetal
VER/dura
mineral
nas minas do quintal
fruto menstrual
no ancestral pomar
das coxas
inquisição:
por sermos duas metáforas novas frescas gostosas desoprimidas e sem qualquer pseudo complexo de fidelidade é que estamos aqui em brazilírica pereira por sugestão da uilcona biúka diante desta outra inquisição. não ainda não fomos apresentadas a lady federika bezerra. mas a conhecemos pela sua fama internacional de porta/bandeira. macabea não pode se sentir frustrada pela nossa decisão de estarmos aqui neste confessionário. Primeiro porque não temos e nunca tivemos nenhum compromisso com ela. segundo é que alinhamos em outra frente liberal e desfrutamos de todo direito de ir e vi ter e dar prazer gozar da forma que melhor nos convir. sexo? é uma opção de gosto mesmo. até no palco porão? irônicas? Sim nosso mestre serAfim nos ensinou que do sarcasmo nasce a grande arte. mas o importante é que nós como metáforas não precisamos estar somente em entre/linhas estamos também nas entre/tuas entre/minhas e não se trata de traição procuramos fazer algo diferente por exemplo do que já vimos em filmes de godard construídos em larga medida só com citações e referências apoiando-nos nas coplagens como elementos básicos para ultrapassá-los e transcendê-los. agimos como uma espécie de conspiradoras conscientes dos bens culturais e materiais que nos pertencem como patrimônio da humanidade.
uma outra
não deveria portanto macabea vociferar aqui sua ira acusando-nos veladamente de traidoras sem assumir de fato em atitude pública a destilação desse veneno como palavra que não entra em cena. as belas letras para nós começaram através das letras belas narcisas pelos próprios nomes: metáforas e por fidelidade a federika não traímos macabea apenas não fazemos parte de uma mesma concepção de que a palavra parte e as letras que pretendemos belas não são simplesmente nossas muito menos dela. podemos constatar com gratidão que emergem das lendas fábulas crônicas e contos poemas de uma visão de mundo bem nítida e pessoal talvez quiçá quem sabe única reflexão de ruidurbanos restos de gravuras e resíduos tipográficos ou seja: uma série de gestos amorosos eróticos de novo repletos de ironias sensuais doce fervor fogo de malícias explosão e gozo por sinal diga-se de passagem que essas dimensões éticas jurídico-morais nunca nos interessaram. nossas relações com a propriedade privada em todas as suas formas e cristalizações históricas sempre foram tranquilas e sem remorsos.
1968
ou
: a investigação
uicorneana
quem és tu uílcon prereira?
que foste fazer na sorbonne?
ter aulas com sartre
ou cantar a simone
?
A
nomes ou numes?
- a massa um dia comerá os biscoitos fino que fabrico, cantarolava du boi pelo grande sertão serafim. pesava o trigo lavava a roupa amassava o pão. jesus um velho coronel de joão gullar não querendo saber das massas mandou empastelar a padaria e incendiar o matadouro do caldo de cana. du boi pensou então em ir embora de brasílica pereira: sertãzinho santo André ribeirão rio preto batatais e por fim nova granada de ouro preto e espanha. vestiu seu uniforme de gala e foi prestar depoimento na cpi das metáforas: - como produtor das artes cínicas e mentor intelectual da sacanagem federiko de albuquerque baudelaire vulgo du boi mestre/sala do grêmio recreativo e escola de samba mocidade independente de padre olivácio tem somente a dizer que virgem aqui só eu. as demais podem dar o capricórnio peixe aquário vênus quem sabe até a balança mas não cai. como mestre/sala dos prazeres invisíveis no inconsciente coletivo entrego a vocês o destino das metáforas e volto à ilha das sereias. biscoitos finos massas padaria nem pão que o diabo amassou às mulheres deixo somente a fome e meus olhos genitais.
antiLírica
eu não sou zen
muito menos zhô
nem tão pouco
zapa
não ando na contra capa
do teu disquinho digital
não alinho pela esquerda
nem à direita do fonema
vôo no centro/viagem
olho rasante/miragem
veia pulsante/poema
fedra margarida a resolvida desfilava pela última vez portando falo. Decidira decepar o pênis e desnudar de vez a sua outra mulher. Brasílica amanheceu incrédula: manchetes vozerios falatórios assembleias faixas cartazes por todas as vias multivias multimeios os ofendidos habitantes brazilíricos inconformados com a fedra passearam em plebiscito vociferando Não ao Sim. e margarida flor impávida lá se foi beira-mar olhando estrelas no cruzeiro. mas césar que não é castro continuou a pigmentar seu mastro na outra parte da tela. e um dia fedra sorrindo com o pênis/baton na boca foi a boca de laur da fedra e voltou com o luar na boca.
Delírio Verbal e Preito
em BraziLírica Pereira
O livro, altar em que se celebra poetas do conturbado século XX, traz a poesia do poeta fluminense Artur Gomes, situada na interface da praxis artística e da experiência existencial, advinda do campo das escaramuças lexicais e da experimentação alegórica.
Erorci Santana*
BraziLírica Pereira: A Traição das Metáforas (Alpharrabio Edições, Santo André/SP, 2000), obra poética de Artur Gomes, toda grafada em minúsculas, principia com dois textos ou, melhor, intertextos com lastro na obra do escritor Uilcon Pereira, espécie de homenagem a desvairada letra uilconiana e à figura daquele escritor. Tanto que, no sintético poema que arremata esse preito literário, Artur o invoca através de uma circunstância biográfica datada:
“quem es tú uilcon pereira?/que foste fazer na sorbonne?/ter aulas com sartre/ou cantar a simone?”.
Contudo, e apesar da primazia de Uilcon Pereira nesta festa verbal, é vasto o coração dessa usina lírica, BraZilírica Pereira trafega em que, antes de traição, há a afirmação do caráter multifacetário e engendrador das metáforas, personificadas e levadas ao extremo onde êxtase e humor se entrelaçam.
Todo um renque de escritores de ponta é glosado, parodiado e parafraseado: Mallarmé(e seu lance de dados), Oswald de Andrade (e seus biscoitos finos, prometido ao palato das massas), Leminski (e sua Alice), Drummond (e seu anjo torto), além de Torquato Neto, Mário Faustino, Sousândrade, Ezra Pound, Dalí, Ana Cristina César, autores referenciais a constituir um panteão geracional. São ícones alinhados no altar da celebração literária, sim, mas também serventia doméstica, dos quais o autor se utiliza, por estético capricho, com derrisão e iconoclastia:
“torquato era um poeta/que amou a ana/leminski profeta/que amou a lice/um dia/pós/veio uilcon torto/e pegou a joia diana/juntou na pereiralice/com o corpo & alma das duas/foi Beauvoir assombradado/roendo o osso do mito/pra lá de frança ou bahia/pois tudo que o anjo via/Sartre jurou já Ter dito/Nonada/biúte:ria”.
Aqui não se vislumbra paradoxo, pois a modernidade, tendo peneirado as cinzas da dor humana no século XX, revelou a fênix de face tanto ebúrnea quanto álacre; a arte passou a privilegiar o profano e o lúdico em detrimento das inclinações sacramentais e sombrias.
E essa BraziLírica Pereira antropofágica e transluzente é a maneira do poeta entretecer a urdidura dos afetos, reinventar a cultura e os agentes culturais de sua predileção, com instrumentos lúdicos e sarcásticos, considerados a ponte para a grande arte.
Outro aspecto a ser considerado é que o autor, egresso do movimento da poesia marginal dos anos 70,
“essa poesia de efeito extraordinariamente comunicativo, que procura e tira vantagem de uma dicção bem-humorada, ardilosa, alegre e instantânea”, na radiografia de Heloísa Buarque de Hollanda, incorporou e aprimorou suas principais conquistas estéticas, notadamente elementos da oralidade acoplados à exploração acentuada da sonoridade vocabular, recurso que leva a poesia ao liminar do domínio musical.
Quase não é mais poesia para ler e sim para dizer em alta voz, ou cantar., circunstância em que o poeta moderno recupera o status de jogral. Nessa aventura literária, às vezes o autor se transubstancia no texto, traveste-se através das personas Lady Gumes, Macabea, Federika Bezerra, Fedra Margarida, projeções de seu alter-ego que pretendem cravar o corpo na palavra, com sinuosidades, coalescências e dissimulações, atributos só encontráveis no espírito feminino.
Situada na interface da praxis artística e experiência existencial, o poeta-prazer, com estado de êxtase permanente desde Couro Cru & Carne Viva, perpetua sua poesia guerrilheira no campo das escaramuças lexicais e da experimentação alegórica, dotada até de um certo autoflagelamento exibicionista, em que louca e alucinada se lacera e despe-se da veste hierática revelando sua outra face insuspeita, sua outra indumentária profusa e multicolor. Em outras palavras, seu traje de ironia e de humor.
Erorci Santana é poeta, autor de Estatura Leviana, Conceitos para Rancor e Maravilta.
1968
ou
: a investigação
uicorneana
quem és tu uílcon prereira?
que foste fazer na sorbonne?
ter aulas com sartre
ou cantar a simone
?
A
nomes ou numes?
- a massa um dia comerá os biscoitos fino que fabrico, cantarolava du boi pelo grande sertão serafim. pesava o trigo lavava a roupa amassava o pão. jesus um velho coronel de joão gullar não querendo saber das massas mandou empastelar a padaria e incendiar o matadouro do caldo de cana. du boi pensou então em ir embora de brasílica pereira: sertãzinho santo André ribeirão rio preto batatais e por fim nova granada de ouro preto e espanha. vestiu seu uniforme de gala e foi prestar depoimento na cpi das metáforas: - como produtor das artes cínicas e mentor intelectual da sacanagem federiko de albuquerque baudelaire vulgo du boi mestre/sala do grêmio recreativo e escola de samba mocidade independente de padre olivácio tem somente a dizer que virgem aqui só eu. as demais podem dar o capricórnio peixe aquário vênus quem sabe até a balança mas não cai. como mestre/sala dos prazeres invisíveis no inconsciente coletivo entrego a vocês o destino das metáforas e volto à ilha das sereias. biscoitos finos massas padaria nem pão que o diabo amassou às mulheres deixo somente a fome e meus olhos genitais.
antiLírica
eu não sou zen
muito menos zhô
nem tão pouco
zapa
não ando na contra capa
do teu disquinho digital
não alinho pela esquerda
nem à direita do fonema
vôo no centro/viagem
olho rasante/miragem
veia pulsante/poema
drummundama itabirina
fedra margarida a resolvida desfilava pela última vez portando falo. Decidira decepar o pênis e desnudar de vez a sua outra mulher. Brasílica amanheceu incrédula: manchetes vozerios falatórios assembleias faixas cartazes por todas as vias multivias multimeios os ofendidos habitantes brazilíricos inconformados com a fedra passearam em plebiscito vociferando Não ao Sim. e margarida flor impávida lá se foi beira-mar olhando estrelas no cruzeiro. mas césar que não é castro continuou a pigmentar seu mastro na outra parte da tela. e um dia fedra sorrindo com o pênis/baton na boca foi a boca de laur da fedra e voltou com o luar na boca.
Dora und (poema de 7 faces) in alguma poesia
quando nasci
um anjo alado -
- daqueles viciado
em parati
meu deu um tapa na bunda
pra que eu logo transformasse
todo horror guardado em pranto
- foi ele cortar o umbigo
do sangue eu beber e berrasse –
: drummundo pra todo canto
ilusão de Ótica
esse Não ç dilha
quando o poço
é mais pra fossa
todo nervo
é mais que osso
todo mar é uma ilha
todo samba é mais pra bossa
um lance de dados
doze e quarenta
e seis
mallarmè
na hora incerta
dormindo
visível na besta
sinal inviável
na quarta
dedo de deus
na segunda
jogando dado
na sexta
Leminsk i Ando
só olho ana à vera
faça outono ou primavera
quantas eras
quantas anas
em carNA val
meu olho disse
:
ana à vera
vera ana
ana clara
claralisse
vejo ana
lendo Eunice
quando li
só vi lu ana
e
ana ali
só vi
li ana
ana/verso
anAlice
macabea vocifera
lady gumes a diretora geral do brasilírico presídio federal de assombradado impressionada com a decisão pungente das metáforas em produzir libertinagens traçou um plano para que as meninas pudessem vez em quando sobrevoar os céus do parador em grande falo gigante capricórnio tropical
macabea a ofendida tentou de tudo: forjou mentiras corrompeu guardas comprou juízes cooptou alunos advogados de deus e do diabo
- “não estou aqui para que pintores sem a mínima competência tentem lambuzar com qualquer tinta de porra a minha estrela que não sobe” vociferava
mas a lady decidida prosseguiu afiando a faca de dois gumes e no momento exato final e derradeiro serrou as grades de ferro que amarravam as portas do corredor central assim feito as metáforas puderam saborear o vôo do zepelin rasante com seu músculo animal e as metáforas se abriram igualzinho igual a geni da tropicália a filha do chico da mangueira
metáforas em juli A
colocar-
me
entre
tuas entre linhas
alinhar-
me
poema líquido
em teu esperma de pedras
espumas brancas do mAr
fedras não és
nem seria
o meu navio que velas
quando brincamos de fadas
em teu oceano de areia
quando em meu sonho ponteio
um s em teus olhos ponteia
como um dourado nas águas
quem sabe águias no
AR
metáfora faustínica
o mundo que venci deu-me uma flor
de lótus
que desfio incontinente de malícias
faíscas na linguagem relâmpagos no meu falo
saliva na minha fala
mesmo em silêncio quando calo
por cima de qualquer sonho de grego
por dentro de qualquer fosso complexo
o mundo que venci deu-me uma flor
de cactos
que o relógio do meu tempo não tem hora
troféu perigoso esse vassalo
em chão de céus infernos meus cavalos
amando a fátria que fariu língua senhora
a traição das metáforas
não me chamo federika bezerra nem sou
amante de rosa noiva sim sem data marcada
para casamento
e aliança de carne ardendo na coxa esquerda
tudo mais já dito sobre mim na quarta-feira de
cinzas é fato eu dei o tiro de misericórdia no
peito agonizante do papa no palácio do catete
ainda que seja quando aqui e mais além que seja mar
macabea para quem não sabe escava sua
própria cova e cava com raiva canina o
buraco negro urubu
murilíndiamendiana
o poeta experimental passeia sua cueca monossilábica por cima dos pianos da
madrugada devorando amoras
macabea invoca nossa senhora das derrotas
para enfrentar o desvario
o poeta está nu cio
macabea corre
o poeta flama inverso
macabea chora
experimental barroco o poeta sobrevoa palácios
e urubus macabea tenta mas não consegue ser pagu
poeta é phoda
macabea pede
o menino faz que não entende
macabea implora
e o poeta põe na metáfora do cu
musaum
o mistério não está
no espírito da carne de
porco
quando torto
me entrego a ti
por ela
poesia guarda
noturna sentinela
B
no coração dos boatos
isso aqui não é a hora da estrela minha mãe não é alice
que apesar de freira de hábito só tinha o
vício de me prender por entre o crucifixo
colocado entre suas pernas
macabea vivia falando sozinha pelos
corredores federais da outra inquisição
conseguia vez em quando reunir alguns há-
bitantes
mal informados sobre a insurreição
das artes aromáticas
e passava o tempo querendo mostrar seus
dotes culinários nua e crua
estuprada pelos estivadores daquele cais
do porto
tentou arrancar o sexo com as unhas
e enlouqueceu uivando como loba amarrada à santa cruz
de uma cabrália velha igrejinha
enquanto na primeira missa
o galo camões bem galinha
chocando o ovo do índio
ou
pero vais que caminha
oswal D i ana
vendo
pagu acesa
em fogo exposta
desta coisa mostra
realidade bosta
desta coisa
vendo
palÁvora
ágora
nada mais
que o teu
vagido
extinto
a Évora
paLarvas
são salivas
entre/dentes
canibais
ou carnibÁvoras
poema um
entre a pele e a flor no asco
com meia sola no sapato
o meu vapor mais que barato
industrial e info núatico
entre o couro de zinco e o cabelo
mar de indecifrável plástico
por entre o bronze dos teus pelos
entre o gozar cibernético
em todo sangue magnético
a minha carne pós poeira
entre a flor e o vaso de barro
na home page ou no carro
na camisinha de vênus
vírus h corroendo
em vita plus ou na sala
meu olho gótico TVendo
brazilírica lâmpada /fala
por um tanto ou tanto quase
cento e dez em cada fase
não sendo assim acaba sendo
poema dois
a tarde morre
quando estou
em frente ao cais
quando estou
de frente
ao cais
a tarde não morre
a noite
faz
poema três
fósforo faísca
lasca de cuspe
formigueiro
falo um país concreto
livre solto reto
percevejo
inseto
Tor poema quatro
a lata que bateu na letra
a lírica que o poeta agora
metade de uma coisa densa
goleiro defendendo a métrica
sinfonia da metáfora
metal de outra coisa imensa
porque não te querendo afora
então só quero áfora
poema cinco
é simples
como se não fosse
complicado fosse o que pensar
doce de sal e fel na minha boca
quando explicado
perde o paladar
poema seis
estando quase
sempre e mesmo
estan/do
esteja breve
assim como uma letra
escrita a lápis
numa estrela
aquarela rabiscada a giz
estando por um raio
esteja por um triz
self service
não fosse isso ilusão de ética
isso não seria aquilo
aquilo não seria isso
por mais que latente seja a dialética
comida eu gosto
não gosto
de cumer à kilo
pois 2 mais 2 que seja quatro Tor fausto ana cristina césar/lince sandra que seja pois...
imaginava matemática
arquitetada em números –
tantos
milimetricamente cada passo
subtraída em equações
projetada à régua –
compasso
jamais poema ao centro
(- # ^ & % @ + = * “ / ? , ~! ] =:
.
e
no entanto
aqui está
ela –
simplesmente poesia
dentro
poundianas
torquato era um poeta
que amou a ana
leminski profeta
que amou a lice
um dia/pós
veio uilcon torto
e pegou a jóia diana
juntou na pereiralice
com o corpo e alma
das duas
foi Beauvoir assombradado
roendo o osso do mito
pra lá de frança ou bahia
pois tudo que o anjo via
Sartre jurou já ter dito
NONADA
biúte: ria
pois 6 mais 6 xangô que veja ferreira hygia veredas pois iansã que seja ...
grande serTão
folhas secas
guimarães joão
concreta poesia
prosa
depois
que o MAGMA
veio à luz
a mangueira verde
é rosa
punção 2
pelos
dessa
fios
de tensão
que a cidade
comporta
a carne elétrica
está quase
não suporta mais
um fio
se eu esquecer-me em j
quando estiver-me em u
para escontrar-me em l
se eu desfizer-me em i
e construir-me em a
e desmarchar-me em n
numa espiral secreta
é que estou em alfa
estando um pouco beta
mesmo querendo
outra
quando estiver poet a
sousAndrática
leve
ave pena
leve
arara amazônica
breve sobrevoa
rara lâmpada
límpida
azul de zinco
impávida oceânica
cérebro vivo
ofusca
a serra
wall street
cega
bela city desumana
anti passarada
morte
que me roa
ave pena
leve
sousândrade
que me doa
traição 2
o corpo estático sobre a terra
cerrados os lábios
como se o pavor da língua
não permitisse o entre e sai
formigas sob os pelos
macabea prometeu somente um gesto
cavar ainda maia a sepultura
para que a música não
perturbasse seus ouvidos
traição 3
clarisse olhou o barco com dois olhos salgados esperma ainda quente provocando frio no ventre
foi de encontro à água na areia
arrastou seu corpo pelas pedras
um marisco ainda vivo
penetrou nas suas trevas
e se instalou definitivamente
no lugar mais inseguro o seu porto
para perturbar por toda vida sua fonte de prazer
traição 4
debaixo da sacada a escada torta
pássaro sem teto acima do delírio
coração de porco crava no oco da noite
a faca cega punhal de cinco estrelas
na constelação do cão maior
por onde úrsula nua passeia
dpedla de dândi deusa de dali
lua de dadá
no coração do pintor sem fronteiras
debaixo do pé de abóbora
acima do pé de cajá
malásia não é aqui
espanha não além mar
salvador não é dali
a mulher que quero mesmo
é uma dedé que não dadá
bia de dante do inferno
itamara ti itamara cá
constelação ursa mão
pra dadá meu coração
pra dedé não sou cantor
quando quero quero mesmo
espuma nylon pele tecido isopor
poema para
um olhar Dali
dentro do arame farpado
esse poema deve ter entrado
para
nunca mais sair
A Traição das Metáforas 6
No fundo negro da noite blak billye
tinha um jeito gal fatal vapor barato macabea agonizava nas entrelinhas
tentando a cena que não sai nem freud explica o seu corpo que cai no primeiro
abismo das metáforas era meio dia mil novecentos e oitenta e oito ribeirão
preto em alvoroço alguém lixava uma carteira enquanto a bailarina se contorcia
em sábado de páscoa ao som de pink floyd em frente as lojas americanas ricardo
lima caçava imagens dentro dos ovos de páscoa marcio coelho toca pérola negra e
eu falo fernando pessoa a eptv me leva ao ar ao vivo e no meio da multidão em
êxtase um bêbado reclama pela sua previdência jardinópolis agora é apenas uma
página de jornal sem vestígios onde rabisquei alguns poemas atrás dos fios
elétricos na parede da choperia sete meia zero onde me chamam federico
baudelaire eu quero teu corpo de manga fruta que se chupa
até sangrar ao som de um negro blues
enquanto houver
Lady
Gumes apresenta:
Federico
em
Um Lance de Dedos
com quantos silêncios se faz uma palavra oculta mesmo assim as claras foram comidas pelo mar nessas nossas doidas aventuras a baia esplendia com seus morros e enseadas seriam talvez quatro horas da manhã quem foi aos infernos sem estar iniciado e purificado será precipitado na lama meus olhos faziam linha reta com a boca de fogo que atirava salve-me rainha fui atrás e encontrei-a deitada com a saia completamente erguida tinha tirado a calça branca de algodão e a tendência de incorporar a infância mais no corpo social que no grupo familiar o tangenciamento desse nó górdio m que campos alertava para as relações dos dois manifestos que alertavam para as transformações do mundo salve-me rainha porque nessas questões da mulher e do amor a vitória não consiste somente na posse da verdade inquietante que ela com tanto brilho anunciara exigem uma análoga revolução na estruturação da linguagem contra a chibata e a carne podre que se lançava no mar ou então que se passem os olhos sobre a crise messiânica o homem sem profissão o verdadeiro cozinheiro das almas ela estava sentada numa cadeira sempre a mesma situação principalmente nesta peça ademir assunção e sua máquina peluda escrivocando sarcasticamente ao rei de portugal saravá meu rei pirei durante dois anos carreguei um inútil luto fechado fazia isso sem a menor cerimônia tensão de palavras coisas no espaço tempo para penetrar o âmago sintético de sua virtualidade ao inserir suas reflesões no contexto mais amplo da dimensão sócio cultural
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BraziLírica Pereira: A Traição
das Metáforas (Alpharrabio Edições, Santo André/SP, 2000), obra
poética de Artur Gomes, toda grafada
em minúsculas, principia com dois textos ou, melhor, intertextos com lastro na
obra do escritor Uilcon Pereira,
espécie de homenagem a desvairada letra uilconiana
e à figura daquele escritor. Tanto que, no sintético poema que arremata esse preito
literário, Artur o invoca através de
uma circunstância biográfica datada:
“quem es tú uilcon pereira?/que foste fazer na sorbonne?/ter aulas com
sartre/ou cantar a simone?”.
Contudo, e apesar da primazia de Uilcon
Pereira nesta festa verbal, é vasto o coração dessa usina lírica, BraZilírica Pereira trafega em que,
antes de traição, há a afirmação do caráter multifacetário e engendrador das
metáforas, personificadas e levadas ao extremo onde êxtase e humor se
entrelaçam.
Todo um renque de escritores de
ponta é glosado, parodiado e parafraseado: Mallarmé(e seu lance de dados),
Oswald de Andrade (e seus biscoitos finos, prometido ao palato das massas),
Leminski (e sua Alice), Drummond (e seu anjo torto), além de Torquato Neto,
Mário Faustino, Sousândrade, Ezra Pound, Dalí, Ana Cristina César, autores
referenciais a constituir um panteão geracional. São ícones alinhados no altar
da celebração literária, sim, mas também serventia doméstica, dos quais o autor
se utiliza, por estético capricho, com derrisão e iconoclastia:
“torquato era um poeta/que amou a ana/leminski profeta/que amou a
lice/um dia/pós/veio uilcon torto/e pegou a joia diana/juntou na
pereiralice/com o corpo & alma das duas/foi Beauvoir assombradado/roendo o
osso do mito/pra lá de frança ou bahia/pois tudo que o anjo via/Sartre jurou já
Ter dito/Nonada/biúte:ria”.
Aqui não se vislumbra paradoxo, pois a modernidade, tendo peneirado as cinzas
da dor humana no século XX, revelou a fênix de face tanto ebúrnea quanto
álacre; a arte passou a privilegiar o profano e o lúdico em detrimento das
inclinações sacramentais e sombrias.
E essa BraziLírica Pereira
antropofágica e transluzente é a maneira do poeta entretecer a urdidura dos
afetos, reinventar a cultura e os agentes culturais de sua predileção, com
instrumentos lúdicos e sarcásticos, considerados a ponte para a grande
arte.
Outro aspecto a ser considerado é que o autor, egresso do movimento da poesia
marginal dos anos 70,
“essa poesia de efeito
extraordinariamente comunicativo, que procura e tira vantagem de uma dicção
bem-humorada, ardilosa, alegre e instantânea”, na radiografia de Heloísa
Buarque de Hollanda, incorporou e aprimorou suas principais conquistas
estéticas, notadamente elementos da oralidade acoplados à exploração acentuada da
sonoridade vocabular, recurso que leva a poesia ao liminar do domínio musical.
Quase não é mais poesia para ler e sim para dizer em alta voz, ou
cantar., circunstância em que o poeta moderno recupera o status de jogral.
Nessa aventura literária, às vezes o autor se transubstancia no texto,
traveste-se através das personas Lady Gumes, Macabea, Federika Bezerra, Fedra
Margarida, projeções de seu alter-ego que pretendem cravar o corpo na palavra,
com sinuosidades, coalescências e dissimulações, atributos só encontráveis no
espírito feminino.
Situada na interface da praxis artística e experiência existencial, o
poeta-prazer, com estado de êxtase permanente desde Couro Cru & Carne Viva, perpetua sua poesia guerrilheira no
campo das escaramuças lexicais e da experimentação alegórica, dotada até de um
certo autoflagelamento exibicionista, em que louca e alucinada se lacera e
despe-se da veste hierática revelando sua outra face insuspeita, sua outra
indumentária profusa e multicolor. Em outras palavras, seu traje de ironia e de
humor.
Erorci Santana é poeta, autor de Estatura Leviana,
Conceitos para Rancor e Maravilta.